Por conta de questões burocráticas tive de andar de comboio por estes dias. (Era a solução mais simples.) Fazia uns bons anos que não andava num.
E aquele trajecto de meia dúzia de estações trouxe-me à memória outros tempos. Talvez por me ter sentado exactamente num banquinho (extra) junto à porta de passagem de vagão. Entretive-me a Observar as pessoas que faceiramente a atravessavam, como se se tratasse de uma normal porta!
Talvez todas estas pessoas já tenham conhecido os comboios como eles são hoje. Com estabilizadores na passagem pedonal, com o fole protector, que conferem uma sensação se segurança. Talvez nem pensem no assunto. Simplesmente atravessam, na busca de uma carruagem menos populosa.
Acontece que a minha Mente ainda tem bem viva a memória dos comboios internacionais que havia nos anos 70/80. Comboios onde se dormia num vagão, mas para se comer tinha de se atravessar a barriga do monstro de ferro...
As portas para se abrirem tinha de se aplicar uma força incrível (nada das modernices de botões de hoje). O barulho incessante do ferro a malhar no ferro. A noite cujo vento gélido e cortante era incentivado pela velocidade da máquina... Se olhas para baixo ganhas Consciência das peças que se engatam numa luta harmoniosa e que mantêm os vagões unidos. Há que mirar a porta à frente e dar o passo na sua direcção. Mais um esforço e quando se fecha a porta sentimos o vácuo da noite a ser sugada.
Os meus pais sempre me conseguiram fazer atravessar em segurança. Como é óbvio. Senão nem estaria aqui.
A questão é que, apesar de não o terem manifestado por palavras, em algum momento sentiram Medo de atravessarem comigo. E eu Senti. E Absorvi como sendo Meu.
As Crianças nascem sem medo!
Quem as educa (pais, familiares, sociedade, sistema educativo) transmite os Medos que lhe foram transmitidos. Muitas vezes através de Gerações e Gerações!
Se eu tentei transmitir de forma Inconsciente este Medo aos meus filhos? Ahahahahaha! Tentei. Confesso! Mas já fui demasiado tarde! A educação que lhes dei permite-lhes perceber que é um Medo da Mamã. E que a Mamã só está a reagir.
O que aconteceu foi que atravessaram, apesar dos meus protestos. Fartaram-se de rir. E obviamente que tive de atravessar também, embora contrariada.
Talvez os vossos filhos se sintam como um dia vocês se sentiram... Se o Medo não for partilhado não haverá direito ao Amor...
Reflictam...
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