terça-feira, 6 de março de 2018

A Sala de Aprendizagem




Era uma vez um humano a quem daremos o nome de Wo. O género de Wo não é relevante para esta história mas, uma vez que os seres humanos não dispõem de uma palavra que designe um indivíduo do género neutro, dar-lhe-emos o nome de Wo, para, deste modo, abrangermos todos os homens e todas as mulheres. Contudo e para facilitar a tradução, vamos convencionar que Wo pertence ao género masculino.


Como todos os homens da sua cultura, Wo vivia numa casa, mas só se preocupava com o quarto em que vivia, na medida em que era exclusivamente seu. O seu quarto era muito bonito, e ele estava encarregue de o manter assim... o que fazia.


Wo tinha uma boa vida, fazia parte de uma cultura em que nunca havia necessidade de comida, porque existia em abundância. Também nunca tinha frio , pois estava sempre coberto.  À medida que foi crescendo, Wo foi aprendendo muitas coisas sobre si próprio. Aprendeu sobre as coisas que o faziam sentir-se feliz, e descobriu objectos para pendurar na parede que podia admirar para ficar feliz. Wo aprendeu, igualmente, sobre as coisas que o entristeciam, e aprendeu a pendurá-las na parede, quando desejava sentir-se triste. Conheceu, ainda, aquilo que o deixava zangado, e encontrou coisas que podia arrancar e colocar na parede e para as quais se podia voltar, sempre que decidisse ficar zangado.


Tal como os outros humanos, Wo tinha muitos receios. Apesar de dispor do essencial, receava os outros seres humanos e determinadas situações. Receava os indivíduos e as situações que podiam implicar mudança, pois sentia-se seguro e estável com a situação em que tudo se encontrava, e tinha-se esforçado muito para a conseguir manter assim. Wo receava as situações que, aparentemente, tinham influência sobre o seu quarto estável e seguro, e temia os indivíduos que controlavam estas situações.

Através de outros humanos, aprendeu coisas sobre Deus. Disseram-lhe que um ser humano é algo insignificante, e Wo acreditou. Afinal de contas, olhara à sua volta e verificara que existiam milhões de humanos e apenas um Deus. Disseram-lhe que Deus era tudo e ele não era nada, mas que Deus, no seu infinito amor, responderia às suas preces, se ele rezasse com sinceridade e fosse um homem íntegro durante toda a sua vida. Então, Wo, que era um homem espiritual, rezou a Deus para que as pessoas e as situações que temia não provocassem mudanças, de forma a que o seu quarto pudesse permanecer inalterado... e Deus atendeu as suas preces.


Wo receava o passado, na medida em que o fazia lembrar-se de coisas desagradáveis, por isso pediu a Deus que lhe apagasse da memória essas lembranças. E Deus atendeu o seu pedido... Wo também receava o futuro, pois ele continha um potencial de mudança, era escuro e incerto e estava oculto. Wo rezou, então, a Deus para que o futuro não trouxesse mudanças para o seu quarto. E Deus atendeu o seu pedido.


Wo nunca se aventurava para muito longe, dentro do seu quarto, porque tudo aquilo de que necessitava, enquanto humano, se encontrava num único canto. Quando os amigos o visitavam era este canto que lhes mostrava... e estava satisfeito com isto.


A primeira vez que Wo reparou que havia movimento no outro canto, tinha cerca de 26 anos. Ficou terrivelmente assustado e de imediato rezou a Deus pedindo que aquilo se fosse embora, pois dava-lhe a ideia de não se encontrar só no seu quarto. Esta situação era inaceitável. Deus atendeu ao seu pedido, o movimento parou... e Wo deixou de ter medo.


Quando tinha 34 anos, o movimento regressou e, de novo, Wo pediu que aquilo parasse, pois estava muito assustado. O movimento parou, mas não sem antes Wo reparar em algo, do outro lado, que lhe havia escapado por completo... outra porta! Sobre a porta havia uma estranha inscrição, e Wo temeu as suas implicações.


Wo inquiriu os líderes religiosos acerca da estranha porta e do movimento, ao que lhe responderam que se mantivesse afastado, pois tratava-se da porta da morte, e que ele certamente morreria se a sua curiosidade passasse a acção. Também lhe disseram que a inscrição era maligna e que não deveria voltar a olhar para ela. Em compensação, encorajaram-no a participar com eles em rituais e que concedesse ao grupo o seu talento e os seus proventos... porque, dessa forma, teria êxito.


Quando Wo tinha 42 anos, o movimento surgiu de novo. Apesar de Wo não ter ficado tão assustado, desta vez, pediu de novo a Deus que aquilo parasse... e assim aconteceu. Deus era bom por responder tão prontamente. Wo sentiu-se fortalecido com os resultados das suas preces.


Quando fez 50 anos, Wo ficou doente e morreu, apesar de não ter tido plena consciência disso quando aconteceu. Reparou que havia, de novo, movimento no canto do quarto e mais uma vez rezou para que parasse mas, em vez disso, o movimento tornou-se mais nítido e aproximou-se. Com medo, Wo levantou-se da cama para, de imediato, descobrir que o seu corpo terreno permanecia imóvel e que ele se encontrava sobre a forma de espírito. Conforme o movimento se foi aproximando, Wo pareceu começar a reconhecê-lo. Estava curioso em lugar de assustado, e o seu corpo de espírito pareceu-lhe algo de natural.


Wo viu, então, que o movimento  era, na realidade, duas entidades que se aproximavam. Ao chegarem mais perto, as duas figuras brancas brilhavam como se tivessem uma luz interior. Finalmente ficaram perante Wo, que ficou espantado com a sua magestade... mas não teve medo.

Uma das figuras dirigiu-se-lhe dizendo: "Vem, meu querido, é tempo de partir." A voz da figura era pungente, com suavidade e familiaridade. Sem hesitação, Wo partiu com as duas. Começava a lembrar-se de quando tudo isto lhe era familiar... olhou para trás e viu, na cama, a sua carcaça aparentemente adormecida. Foi invadido por um sentimento maravilhoso que não conseguia explicar. Uma das entidades tomou-lhe a mão e guiou-o na direcção da porta que continha a estranha inscrição. A porta abriu-se e os três transpuseram-na.


Wo, encontrou-se perante um longo corredor com portas que davam para quartos, de ambos os lados. Wo pensou para consigo: "Esta casa é, de facto, bem maior do que imaginei!" Reparou na primeira porta, que continha mais inscrições estranhas. Dirigiu-se a uma das figuras brancas e perguntou: "O que é que se encontra nesta primeira porta da direita?" Sem dizer uma palavra, a figura branca abriu a porta e fez sinal a Wo para que entrasse. Quando Wo entrou, ficou estupefacto. Amontoadas, desde o chão até ao tecto, encontravam-se riquezas com que jamais sonhara, nem mesmo nos seus sonhos mais loucos! Havia lingotes de ouro, pérolas e diamantes. Num só canto havia rubis e pedras preciosas suficientes para um reino inteiro. Voltou-se para os seus companheiros brancos e luminosos  e perguntou: "Que lugar é este?" A figura branca maior falou, dizendo: "Este é o teu quarto da abundância, se tivesses tido vontade de nele entrar. Pertence-te, ainda, e aqui permanecerá, para ti, no futuro." Wo ficou sobressaltado com esta informação.

Ao regressarem ao corredor, Wo quis saber o que é que se encontrava no primeiro quarto da esquerda. .. outra porta com uma inscrição que parecia começar a fazer sentido. Quando o ser branco abriu a porta disse: "Este é o teu quarto da paz, caso tivesses tido vontade de usá-lo." Wo entrou no quarto com os seus amigos e, de imediato, ficou envolto num nevoeiro branco e espesso. O nevoeiro parecia estar vivo, porque logo envolveu o seu corpo e Wo respirou nele. Foi dominado por um bem-estar e percebeu que nunca mais teria medo. Sentiu paz onde nunca antes a tivera. Queria ficar, mas os seus companheiros fizeram sinal para que continuasse, e de novo retomaram o longo corredor.


Ainda outra porta à esquerda. "Que quarto é este?", perguntou Wo. "É um lugar onde apenas tu podes entar", respondeu a figura branca mais pequena. Wo entrou no quarto e de imediato foi banhado por uma luz de ouro. Soube do que se tratava. Tratava-se da sua própria essência, da sua iluminação, do seu conhecimento do passado e do futuro. Era o arazém de espírito e de amor de Wo.  Wo chorou de alegria e ficou a absorver verdade e compreensão durante muito tempo. Os seus companheiros não entraram e foram pacientes.

Finalmente Wo regressou ao corredor. Tinha-se modificado. Olhou para os seus companheiros e reconheceu-os. "Vós sois os guias", declarou Wo, calmamente mas com firmeza. "Não", retorquiu o aior, "nós somos os teus guias." E continuaram cheios de amor. "Temos estado contigo desde o teu nascimento, por uma única razão: para te amar e ajudar a revelar a passagem. Tiveste medo e pediste para que nos retirássemos, e nós assim fizémos." "Estamos ao teu serviço com amor , e honramos a tua incarnação de expressão." Wo não vislumbrou qualquer tom de censura nas palavras deles. Compreendeu que eles não estavam a julgá-lo, mas a honrá-lo, e sentiu o seu amor.

Wo olhou para as portas e conseguiu, então, ler os escritos. Ao ser conduzido ao longo do corredor, viu portas marcadas com CURA, CONTRATO e ainda outra com ALEGRIA. Wo viu ainda mais do que desejara, pois ao longo do corredor havia portas com nomes de crianças que não tinham nascido... e até mesmo uma marcada co LÍDER MUNDIAL. Wo começou a perceber o que tinha perdido. E como se conhecessem os seus pensamentos, os guias disseram: "Não recrimines o teu espírito, porque tal não é correcto e não ajuda a tua magnificência." Wo não compreendeu completamente. Olhou para trás, para o sítio  por onde entrara e viu o que estava escrito na porta, a inscrição que inicialmente o assustara. A inscrição era um nome!... era o seu nome, o seu verdadeiro nome... e Ele, então, compreendeu tudo.

Wo conheceu a rotina, porque, agora, Ele lembrava-se de tudo e Ele já não era Wo. Despediu-se dos seus guias e agradeceu-lhes pela sua dedicação. Ficou, durante muito tempo, a contemplá-los e a amá-los. Depois, voltou-se para caminhar em direcção à luz que se encontrava ao fundo do corredor. Já lá tinha estado. Soube o que o esperava na sua breve viagem de três dias à gruta da criação, para recuperar a sua essência... e de seguida ao átrio da honra e da celebração, onde, o aguardavam aqueles que muito o tinham amado, inclusivamente aqueles que Ele tinha amado e perdido enquanto estivera na Terra.

Soube onde estivera e para onde ia. Wo ia para  casa.


KRYON
(Livro 2) Não pense como um ser humano - Respostas de Kryon a perguntas fundamentais
Editora: Lua de Papel

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